Trekking noturno e cachoeiras em Aiuruoca (MG)
Cume do Pico do Papagaio (MG), a 2.100 metros de altitude |
Conto nos dedos de uma mão as vezes em que assisti ao nascer do sol de cima de uma montanha. Quando iniciei a subida do Pico do Papagaio (MG) na madrugada do Feriado da Independência, havia dois anos que eu não pegava uma trilha com esse propósito. Era melhor manter a expectativa sob controle.
O relógio público marcava 14º C por volta da meia-noite na praça central de Aiuruoca (MG), município de 6 mil habitantes e porta de entrada para o Parque Estadual da Serra do Papagaio, quando me juntei ao grupo que partiria para o trekking noturno rumo ao cume do Papagaio.
Aiuruoca vem do tupi-guarani e significa casa do papagaio. A ave-símbolo da região é o papagaio de peito roxo, que no passado podia ser visto nas encostas da serra de Aiuruoca, mas hoje está na lista dos animais em perigo de extinção.
Num comboio de seis carros partimos da praça de Aiuruoca e seguimos até a base do Pico. Foram cerca de 40 minutos sacudindo em estrada de terra até o ponto de partida para a trilha. Há dias não chovia na região e o caminho estava uma poeira só. Nos períodos de seca, a estrada é boa e permite que carros de passeio alcancem o início da trilha sem perrengue. Há um estacionamento no local.
Início da trilha ainda na madrugada; total de 14 km (ida e volta) |
À 1h05 da manhã colocamos o pé na trilha. A lua nova iluminava pouco mas isso não seria um problema. Era apagar as lanternas para ver o céu tomado de estrelas. São esses pequenos detalhes que vão compondo toda a experiência. Afinal, são tantas variáveis em jogo... Todo praticante de esporte de aventura sabe me o que é isso! O tempo poderia estar nublado. Poderia estar chovendo. Poderia estar frio.
Três meses antes, todos esses fatores decidiram se encontrar no mesmo dia e local quando tentei fazer a travessia entre os Picos Marins e Itaguaré (SP). Seria a retomada das minhas viagens pós-pandemia mas, a poucos metros de atingir o primeiro cume, uma ventania e chuva me obrigaram a abortar a aventura. Acontece!
Depois de uma hora de trilha no Papagaio, chegamos ao primeiro mirante. Numa escuridão só, com as lanternas desligadas, o céu estrelado se apresentou. O trekking noturno tem 14 km (ida e volta), o que é normalmente percorrido entre 10 e 12 horas.
A maior parte do trajeto é de subida, com ganho de elevação de aproximadamente 500 metros. Até o cume do Pico do Papagaio, a 2.100 metros de altitude, intercalamos trechos de mata fechada e áreas mais expostas.
A caminhada não exige alto nível técnico uma vez que não há trechos de escalaminhada em rochas. Mas o esforço físico para superar as subidas é o que faz esse trekking não ser indicado a iniciantes. É preciso bom condicionamento físico.
Visual da trilha durante o dia |
O trekking noturno pode assustar num primeiro momento mas é uma experiência interessante principalmente quando o caminho de ida e volta é o mesmo. Acaba-se tendo duas viagens em uma porque, com o amanhecer, você vai ver de fato a vegetação, a fauna e a paisagem que não viu na ida. A sensação é de estar fazendo uma trilha diferente daquela que fez durante à noite.
Pico do Papagaio |
Se o céu foi o protagonista na subida, bromélias e samambaias gigantes encantam durante a volta. O desempenho do grupo foi acima do esperado e chegamos todos ao ponto de ataque para o cume cerca de meia hora antes do previsto. Deu tempo de tirar um cochilo antes de iniciar a subida final para o ponto mais alto do Papagaio e assistir ao espetáculo que foi o amanhecer naquele dia.
Há a opção de fazer o trekking durante o dia e retornar no fim da tarde.
Amanhecer no cume |
O que fazer mais em Aiuruoca
Para quem não quer se aventurar no ponto mais alto de Aiuruoca as cachoeiras são uma alternativa de contato com a natureza sem tanto sacrifício. Existem dezenas de opções delas a cerca de 30 minutos do centro da cidade.
As cachoeiras mais conhecidas estão em duas regiões diferentes da cidade _ o Vale do Matutu e o Vale dos Garcias _ e são acessíveis em trilhas autoguiadas.
No Vale do Matutu, visitei a cachoeira do Fundo e o Poço das Fadas. Para chegar na primeira, há uma trilha de cerca de 1 hora. O próprio nome diz: ela fica no fundo do vale do Matutu, uma área rural em Aiuruoca com pousadas charmosas e um dos restaurantes mais disputados da cidade, Restaurante Tia Iraci. O início da trilha para a cachoeira é ao lado do restaurante.
Cachoeira do Fundo |
Cachoeira do Fundo |
Vale do Matutu |
O Poço das Fadas fica a 10 minutos a pé do estacionamento ao lado do Casarão do Matutu.
Poço das Fadas |
O Vale dos Garcias é outra região rural de Aiuruoca onde fica a Cachoeira dos Garcia e o restaurante Casal Garcia, também bastante concorrido. A cachoeira apontada como a mais bonita da cidade fica aos fundos do restaurante . Uma escadaria íngrime e de madeira leva à base da queda de cerca de 30 metros. Também é possível acessar o topo da cachoeira a pé onde existem pequenas piscinas de água natural.
Cachoeira dos Garcias |
Cachoeira dos Garcias |
Comidinhas da roça
Ir a Minas Gerais e não se permitir comer sem frescura é desperdiçar tempo. Em Aiuruoca, eu considero obrigatório conhecer três restaurantes: Tia Iraci, Casal Garcia e o menos conhecido mas excepcional Fios da Terra.
Na Tia Iraci o cardápio é a tradicional comida mineira com a qualidade de ingredientes fresquinhos da roça que dita o cardápio.
Tia Iraci |
No Casal Garcia o ambiente tem uma pegada mais sofisticada _ para os padrões da roça, ok? _ e o carro chefe é a truta com shimeji. Almoçar com a vista da cachoeira é um dos pontos altos.
Casal Garcia |
No Fios da Terra o cardápio muda regularmente. A experiência é pedir o menu do dia com entrada, prato principal e sobremesa e deixar o tempo passar. O restaurante fica numa casa simples e rústica.
Fios da Terra |
Fios da Terra |
Em tempo... Aiuruoca fica a cerca de 5 horas de carro de São Paulo (capital). É indispensável ter um veículo para se deslocar para os atrativos da cidade porque a maior parte deles fica na zona rural. Esqueça Uber ou táxi. Não há em Aiuruoca. Recomendo ficar hospedado nessas regiões mais afastadas ao redor da serra para entrar no clima de Aiuruoca. O centro da cidade é bem reduzido e há poucas opções confortáveis de estadia e restaurantes.
Por fim, toda a aventura ficou ainda mais desafiadora com a companhia do Flávio Freire, um típico cidadão urbano que topou passar o feriado no meio do mato com a amiga maluquinha! ;-)
Cachoeira dos Fundos |
Comentários
Postar um comentário