Jalapão enche os olhos e a alma com natureza bruta

Por do sol nas dunas do Jalapão com a Serra do Espírito Santo ao fundo
Alguns confundem com Japão pela semelhança fonética. Outros pensam que é algum destino asiático. O desconhecimento dessa porção do Brasil pela maioria dos brasileiros só torna a viagem ao Jalapão uma experiência ainda mais arrebatadora.

O que chamamos de Jalapão é, na verdade, o maior parque estadual do Tocantins. Criado em 2001, ele se tornou paraíso de apaixonados pelo ecoturismo e turismo de aventura. Tem cachoeira, praia de rio, dunas, chapadões, trilhas, cânions e fervedouros. É uma viagem com diferentes cenários e muitas sensações.

É provável que você nunca tenha ouvido falar deles, mas os fervedouros são a marca registrada do Jalapão. Piscinas de nascentes de rios subterrâneos, eles propiciam uma intrigante sensação por não deixar ninguém afundar em suas águas mesmo que alguns deles tenham mais de 50 metros de profundidade. Do lado de fora, a coloração das piscinas e a vegetação preservada aumentam o encantamento.

Fervedouro Bela Vista
O maior e mais famoso fervedouro do Jalapão é o Bela Vista. Ele fica em São Felix do Tocantins, uma das cidades ao redor do parque. Tive o privilégio de conhecer o cartão-postal numa manhã de dezembro, antes da semana do Natal, quando o parque estava bem vazio. Por quase uma hora fomos somente eu e meu parceiro de viagem aproveitando aquela água de um verde penetrante. Era meu segundo dia de expedição no Jalapão. Achava que não ia ver nada tao surpreendente. Estava enganada.

Muito me impressionou a variedade de paisagens no parque. Para começar, é preciso dizer que não é recomendável se aventurar no Jalapão por conta própria. O parque está a cerca de quatro horas de carro de Palmas, capital do Tocantins, mas circular por lá é bem difícil. As distâncias entre um atrativo e outro são grandes, as estradas são de terra e não há muita sinalização. Em cinco dias de expedição, percorremos cerca de 1.200 km. É chão e muita poeira!!!

Nas operadoras de turismo há roteiros para todo tipo de visitante. Dos mais populares, com duração de 2 a 4 dias, aos mais longos, de até 10 dias, feitos sob medida para aventureiros. Eu escolhi fazer a Volta ao Parque, circuito que combina trekking, rafting e 4x4 num roteiro de 5 dias com pernoite em uma pousada diferente a cada noite.

1º dia
Começou assim... Às 8h já estava dentro do carro a caminho do Jalapão. Na metade da viagem entre Palmas e o parque, apareceu o primeiro atrativo da viagem: Morro do Gorgulho ou Morro Vermelho.

Morro Vermelho
Subir até o topo de um desses morros é obrigatório para ter noção exata da imensidão avermelhada que aparece de repente na paisagem e rompe a monotonia do cerrado. O Morro do Gorgulho fica no município de Novo Acordo e acaba sendo um aperitivo para o que vamos encontrar no parque do Jalapão. Mais uma hora de carro e, aí sim, vejo o primeiro patrimônio do Jalapão, a Serra da Catedral. Imponente, ela ganha tons dourados no por do sol. Meu primeiro entardecer jalapoeiro foi lá em cima, depois de uma trilha de uns 30 minutos de subida.

Morro da Catedral
Sempre que viajo adoro planejar meus pores do sol, especialmente quando estou na natureza. No Jalapão, esse ritual ganhou ainda mais significado porque o por do sol naquelas bandas é um espetáculo de cores. O melhor deles ainda estava por vir...

Trecho da trilha para chegar ao topo do Morro da Catedral

Vista de cima do Morro da Catedral
Buritibanas, quartos do Jalapão Ecolodge feitos de Buriti

2º dia
Foi o dia mais tranquilo. O roteiro inicial era fazer um trekking de 17k e finalizar com um rafting no Rio Novo. Mas o nível da água estava acima do recomendável então não teve trilha. Começamos com o fervedouro Bela Vista e depois seguimos para o rafting no Rio Sono.

Fervedouro Bela Vista
Não vou esquecer do banho de rio que tomei depois de muitas remadas. Não sei nadar. Por isso resisti muito em deixar o bote. Mesmo com colete estava desconfiada se seria uma boa ideia me jogar na água... "Silvia, pula!", ordenou o guia. Fui. Ter me deixado ser levada, flutuando, pela correnteza fraquinha e refrescante foi das melhores sensações que o Jalapão deixou em mim. Não há registro da façanha porque a única câmera à prova d'água não funcionou. A chegada em terra firme teve piquenique com frutas, queijos e espumante e por do sol em cima de uma árvore.

Por do sol após rafting e piquenique



3º dia
Já era meu terceiro dia de expedição e ainda não tinha visto nenhuma cachoeira. A estreia não podia ter sido mais deliciosa. Acordamos cedo e nos apressamos para chegar à Cachoeira do (seu) Formiga ainda no início da manhã para, de novo, evitar dividir a belezura com outros visitantes. Deu certo! Tivemos a cachoeira só pra gente.

Cachoeira do Formiga

Queda d'água não é grande mas sob medida para uma massagem

Cachoeira do Formiga

De lá, fizemos uma trilha de 4k, passando pelos fervedouros Buritizinho e Encontro das Águas.

Fervedouro Encontro das Águas 

Fervedouro Buritizinho

Também foi dia de conhecer uma das comunidades quilombolas do Jalapão, Mumbuca, lugar de gente simples e berço do capim dourado. No local há lojinha de artesanato para garantir um souvenir típico. Depois de um almoço caseiro no vilarejo, pegamos o carro com destino às dunas do Jalapão. Foi mais um por do sol daqueles... Depois o céu estrelado aumentou as expectativas pelo amanhecer do dia seguinte.

Dunas do Jalapão 




4º dia
Antes das 4h da manhã estávamos todos no carro rumo à Serra do Espírito Santo. Com lanterna na mão, começamos a subir ainda com a lua no céu os paredões de um dos chapadões mais imponentes do Jalapão. Quando alcançamos uma das bordas da serra algumas estrelas ainda estavam lá.

Chegado ao topo da Serra do Espírito Santo ainda à noite

O amanhecer foi recompensador e conferir o espetáculo de cores daquele lugar privilegiado foi um presente.

Nascer do sol na Serra do Espírito Santo



Ainda seria um dia cheio de atividades. O café da manhã foi no Bar da Benita e a próxima parada foi a Cachoeira da Velha, a mais visitada do parque. Ela é daquele tipo de cachoeira apenas para apreciar. O ponto alto da visita, para mim, foi a prainha do Rio Novo que fica perto da queda d'água e onde fizemos um lanche.


Cachoeira da Velha

Praia do Rio Novo

O por do sol deste dia seria na Pedra Furada, outra formação rochosa concorrida no Jalapão. No meio do caminho conhecemos o cânion Sussuapara, simpático e com uma pequena cachoeira para quem quiser se refrescar. O entardecer na Pedra Furada foi ao som de maritacas e araras azuis.

Cânion Sussuapara
Janela mais concorrida da Pedra Furada

Pedra Furada
Por do sol na Pedra Furada


5° dia
Último dia da expedição e, quando achava que não tinha mais com o que me surpreender, chegamos ao Cânion Encantado. O lugar foi descoberto há cerca de três anos por acaso pela filha do dono da área, que já não está no Jalapão mas num outro polo turístico do Tocantins chamado Serra Geral. É uma estação ecológica que fica ao lado do parque do Jalapão.

Além de paredões cobertos por vegetação, o cânion tem um rio de água cristalina, cachoeiras e uma gruta de tirar o fôlego. O acesso é por trilha ora na terra ora na água. Uma pedra bem no meio da gruta, quando iluminada pelos raios de sol que entram por uma abertura no teto, ganha contornos de talismã.

Alma é o nome do município onde fica o cânion. Definitivamente, não tinha lugar melhor para ele estar. A mim não restava lugar melhor para terminar minha passagem pelo Jalapão e agradecer por mais essa aventura.

Gruta do Cânion Encantado

Trilha no Cânion Encantado

Corredor das cachoeiras no cânion

Cachoeira dos Pilões, a maior do Cânion Encantado

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