Encantos dentro e fora da medina de Marrakech


Praça Djemma el Fna, no centro da medina de Marrakech
Caminhar por Marrakech é ser provocado a experimentar contrastes a todo instante. Imponentes muralhas dividem a cidade em duas dimensões: a medina de quase mil anos e a cidade moderna, eleita em 2015 o melhor destino da África em uma das premiações mais conceituadas do turismo.

Intramuros, estão as vielas, os palácios centenários ricamente decorados com ladrilhos coloridos e a agitação dos souqs (mercados locais). Do lado de fora, são as avenidas largas e arborizadas, os prédios novos e a paisagem monocromática em ocre, cor oficial das fachadas em Marrakech. Isso sem falar da convivência nas ruas entre véus, burcas e taqiyahs (bonés arredondados usados por homens islâmicos) com minissaias, jeans e topetes cuidadosamente penteados.

Costuma-se dizer por lá que é dessa mistura que vem o charme de Marrakech, a cidade mais visitada de Marrocos. Antiga sede do império marroquino, ela é a terceira maior do país _ atrás da capital Rabat e de Casablanca. Tem boa infraestrutura, com aeroportos e rede hoteleira para todos os bolsos. Mas a principal porta de entrada no país a partir do Brasil é Casablanca, que fica a quase quatro horas de carro de Marrakech ou uma hora de avião. 

Se seu tempo for curto, invista na medina, principal atração de Marrakech. São 7 km2 _ duas vezes o bairro de Ipanema _ de um emaranhado de ruelas disputadas por motos, carros, moradores, lojinhas, ambulantes e turistas. Tudo ao mesmo tempo. Foi lá que tudo começou em Marrakech quase mil anos atrás, mais precisamente na praça Djemma El Fna, tombada pela Unesco. 

Nela, encantadores de serpentes, acrobatas, músicos, vendedores e barracas de comidas típicas se encarregam da agitação todo o dia. Sem falar dos quiosques de suco de laranja, famoso pela cor e doçura intensas. 


No fim de tarde, a praça é o endereço mais disputado para um por do sol regado ao tradicional chá de menta marroquino. As varandas dos bares que rodeiam a praça ficam lotadas. Esqueça bebida alcoólica. Na maioria dos estabelecimentos públicos do país, onde 98% da população seguem o islamismo, o consumo não é permitido. Apenas em hotéis e boates bebidas alcoólicas são liberadas a turistas. Visitar a principal mesquita de Marrakech, a Koutoubia, também não é permitido, exceto a muçulmanos.

Mesquita Koutoubia
Apesar dessas restrições, Marrocos vive no atual reinado de Mohammed VI, de 52 anos, um processo de abertura social. Em 2004, o país fez uma reforma do Código Civil, que deu às mulheres o direito de pedir o divórcio e se casar sem o consentimento de um homem da família. A poligamia continua permitida _ limitada a quatro esposas _ , mas a nova lei abriu a possibilidade de casamentos monogâmicos. O próprio rei optou por ter uma esposa somente, e ela não usa véu como a maioria das marroquinas. 

O melhor jeito de conhecer a medida é a pé. Não se desespere se perder entre as vielas. A experiência faz parte e, de um jeito ou outro, todos os caminhos levam à praça central. 


Pelas vielas, portas de madeira escondem palácios centenários. As grades nas janelas podem fazer alguns acreditar que o local não é seguro. Mas elas estão ali por outro motivo: impedir que as mulheres muçulmanas tenham seu rosto visto por estranhos. 

Alguns palacetes foram transformados em riads, como os marroquinos chamam pequenos hotéis administrados por famílias. É uma opção de estadia para quem quer viver mais intensamente a cultura local. As grandes cadeias hoteleiras como Hilton, Four Seasons e Sofitel ficam nos bairros modernos de Gueliz e Agdal.

Entrar em uma das farmácias que ainda funcionam à moda antiga dentro da medina é outro passeio curioso. Os remédios são comprados a peso e são todos naturais. Açafrão, por exemplo, além do uso culinário, é indicado como laxante para tratar prisão de ventre. Um pote com 8 gramas custa cerca de 15 euros. O óleo de argan, um poderoso hidratante para os cabelos, também são vendidos nessas farmácias.

O comércio é uma tradição à parte no país. Praticamente toda compra feita na medina precisa ser exaustivamente negociada. A oferta de produtos é imensa, de especiarias a móveis. Também há museus dentro e fora da medina sobre a história, arquitetura e cultura marroquina. Quando o cansaço bater, pode-se buscar um refúgio no Jardim Marjorele, no lado moderno de Marrakech. Lá morou o estilista Yves Saint Laurent.


O QUE VOCÊ PRECISA SABER ANTES DE VIAJAR

O Marrocos é um país de muitas caras. A exótica Marrakech, sem dúvida, é a face mais conhecida. Entretanto, uma travessia de leste a oeste do país, que pode ser feita de carro em poucos dias entre a cosmopolita Casablanca, às margens do Atlântico, e a pequena Erfoud, no coração do deserto do Saara, permite entrar em contato com uma diversidade marroquina ainda pouco explorada. São praias, campos, montanhas nevadas, oásis e dunas numa sequência que foge do lugar comum.

Marrakech aparece nesse roteiro como os oásis para as caravanas que antigamente atravessavam o deserto. É um ponto de parada obrigatório para respirar quase mil anos de história confinados numa cidadela encastelada de pé até hoje, a medina de Marrakech. Também é uma oportunidade para descobrir como a jóia do Reino de Marrocos concilia o antigo e o moderno. 

A alta temporada é em julho e agosto, quando também são registradas as maiores temperaturas, podendo chegar facilmente aos 40 graus em Marrakech. Eu visitei o país em dezembro e as temperaturas foram bem amenas. Durante o dia, fez cerca de 20 graus e, à noite, cerca de 15 graus.
A proximidade com áreas conflagradas da África, como o Mali e o Egito, não comprometem a sensação de segurança no país, que se mantém, por enquanto, distante do radicalismo político e religioso.

O povo é amistoso e solícito, mas a religião _ 98% da população é muçulmana _ impõe limites à socialização. Para evitar aborrecimentos e também em sinal de respeito aos anfitriões, é aconselhável evitar roupas que exponham muito o corpo e nunca tomar bebidas alcoólicas nas ruas. Aliás, isto é proibido no Marrocos, do rei Mohammed VI.

O custo para turistas é mediano. Os hotéis seguem padrões europeus. O cardápio dos restaurantes é democrático. Paga-se, em média, por um tagine, um dos pratos mais tradicionais no país, cerca de R$ 100 para três pessoas. A oferta de comida de rua é extensa, e os souks, como eles chamam os mercados a céu aberto, o paraíso das compras. A moeda local é o dirham, que custa cerca de R$ 0,50 centavos.

No Brasil só existe uma opção de voo direto para o país pela Royal Air Maroc. A companhia aérea é bem mais ou menos, famosa pelos atrasos frequentes e aeronaves antigas. Mas é o único jeito de chegar ao Marrocos em 10 horas de voo. O restante das opções obrigam a fazer escalas, em geral, na Europa. 




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